Existe segredo para a cura dos traumas da morte?
Diante
do mistério da morte, especialmente a partir da dor da perda de um ente
querido, sempre vem à tona o questionamento acerca da vontade de Deus. O
argumento é muito simples. Se tudo que acontece é com o consentimento de Deus,
por que Ele não impede a morte de alguém? Se até nosso cabelo está contado, se
na oração do Pai-Nosso aprendemos a rezar:
“Seja feita a Vossa vontade”, por
que a morte não é a vontade de Deus? Por que Ele não protege um filho, cuja mãe
reza tanto por sua proteção, mesmo sabendo da imprudência dele? Se Deus é tão
bom, por que não impede a morte de uma pessoa? Por que permite o sofrimento? É
pecado revoltar-se contra Deus?
Tente
responder, serenamente, a cada uma dessas perguntas. Esse é um segredo para a
cura dos traumas de morte. A própria notícia a respeito do falecimento de
alguém pode ser uma fonte permanente de traumas, além das dificuldades relacionadas
com a morte: solidão, saudade, aceitação, sentimento de perda, ausência, medo
de morrer, sofrimento.
Muitas
vezes, pela dor da perda e pela dificuldade de aceitação, a pessoa cria
mecanismos psicológicos como tentativa de defesa. Conforme a intensidade da relação com o falecido, chega-se a sentir, quase que
fisicamente, a presença da pessoa. Na verdade, isso é uma projeção do
inconsciente. A pessoa morta jamais entrará em contato com o mundo dos vivos. A
morte cria-lhe uma barreira eterna. A única comunhão possível é da parte dos
vivos.
O cristão
jamais pode falar de morte sem falar em ressurreição
Sentir a
presença de quem já morreu é uma tentativa do inconsciente de amenizar a dor da
perda e, também, de resolver problemas que não foram resolvidos em vida. Essa
sensação é infantil e muito perigosa, já que ajuda a criar falsas doutrinas
sobre a morte e sobre a vida eterna.
Só existe
uma coisa que podemos fazer pelos nossos falecidos: oração! E essa pode ser
pessoal, comunitária, litúrgica, na igreja ou no cemitério. Fora isso, qualquer
coisa que se fale é “inspiração encardida”, que precisa ser eliminada. A oração ajuda os vivos e os mortos. A certeza da vida eterna
nos torna mais responsáveis pela consequência de todos os nossos atos. A fruta
caída do pé da árvore morre, mas deixa sua semente. Assim acontece conosco.
A sociedade capitalista do Ocidente tenta negar não só a
morte, mas tudo que possa lembrar nossa situação de finitude e fraqueza. A
ideia falsa da eterna juventude, os ideais dos progressos científicos, a
acumulação dos bens e o apelo ao consumismo são tentativas de negar o que todo
mundo sabe. O presente perpétuo e imediato é sonho estragado que nasce no
coração de todos aqueles que não assumem a morte como uma amiga, que nos revela
quem verdadeiramente somos. Conforme se vive, morre-se.
Segundo a
fé cristã, a morte não é o fim, e sim o novo começo; é o encontro definitivo
com Deus e a entrada numa dimensão plena junto a Ele. O cristão jamais pode
falar de morte sem falar em ressurreição. Todos seremos ressuscitados por Deus,
do mesmo jeito como Ele ressuscitou Jesus.
Texto extraído do livro Cura dos Traumas da Morte, de padre Léo.
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