Reagir à violência criando cultura de justiça e paz, indica padre
A cultura da violência
A Campanha da Fraternidade
deste ano nos convida a refletir sobre o tema “Fraternidade e Superação
da Violência”. No entanto, é forçoso admitir, como salientou a filósofa
política alemã de origem judaica Hannah Arendt, que temos hoje a
banalização do mal, isto é, a violência se tornou algo natural, de modo
que não causa indignação social, por exemplo, uma briga generalizada
entre torcidas de futebol que deixa mortos e feridos atrás de si ou,
então, uma chacina realizada nas periferias das cidades, ou ainda, o
fato de um trabalhador indo para o serviço de bicicleta ser atropelado
por um carro em alta velocidade, entre outros tristes exemplos. Deve se
salientar, ainda, que esta naturalização polariza a violência, criando
uma espécie de dualismo entre os “bons” de um lado e os “maus” de outro,
esquecendo que a realidade não é assim tão simplista. Em geral os que
mais sofrem com a violência e, ao mesmo tempo, são equivocadamente
responsabilizados por ela, são as camadas mais pobres da população que
vivem nas periferias das cidades e os afrodescendentes, sendo colocados
generalizadamente no lado dos “maus”.
Os números da violência
Existe uma mentalidade difundida de que o Brasil é um país pacífico.
No entanto, os números da violência indicam que aqui se mata
absurdamente mais do que em outros países do mundo. De acordo com o
Texto-base da CF-2018 (n. 18-19), nosso país tem 13.100% mais homicídios
que a Inglaterra, 436,6% a mais que os Estados Unidos e 609,3% mais que
a Argentina. Aqui a cada nove minutos uma pessoa é vítima da violência.
Se compararmos o Brasil com países do Oriente Médio que são mostrados
nos noticiários de televisão, veremos que em cinco anos morreram 256.124
pessoas na guerra da Síria, enquanto aqui foram 279.592 no mesmo
período. Ironicamente poderia se dizer que é mais seguro morar na Síria!
Além dessa violência armada, é preciso salientar a violência doméstica,
com agressões físicas, verbais e morais às mulheres, crianças e idosos.
E a violência no trânsito, que continua fazendo muitas vítimas? E a
violência social, que impossibilita milhões de pessoas de terem uma vida
digna? Acontece, então, um efeito cascata: na medida em que cresce a
desigualdade social, aumenta a violência. Por isso o Papa Francisco afirma que não haverá paz social sem a inclusão social dos pobres (EG 186-216).
Os rostos da violência
Não podemos ficar somente citando índices frios de violência. O
Texto-base da Campanha da Fraternidade (n. 74-145) nos convida a
reconhecer que há pessoas por trás destes números, nos provoca a
contemplar o rosto sofrido das vítimas: rostos de jovens, em sua maioria
negros e pobres na periferia; rostos de mulheres, crianças e idosos,
que sofrem violência doméstica; rostos de vítimas da exploração sexual e
do tráfico humano; rostos de trabalhadores rurais, na luta por seus
direitos; rostos de vítimas do narcotráfico, seja pelo consumo de
entorpecentes quanto pela violência do crime organizado; rostos de
pessoas que tiveram seus entes queridos atingidos pela violência no
trânsito, entre outros tantos rostos sofredores. Exatamente por este
motivo humano é preciso reagir à violência,
criando uma cultura onde justiça e paz se abracem. Por causa destas
vítimas a sociedade não pode aceitar passivamente essa cultura de morte.
Pequenos gestos e mudanças de atitudes podem contribuir para a
superação deste mal, tais como resolver pacificamente os conflitos,
“contar até dez” antes de tomar uma atitude violenta, educar as crianças
e os jovens para se respeitarem mutuamente, entre outras iniciativas
pessoais, comunitárias e sociais e de governo. Como disse Mahatma
Ghandi, “não existe um caminho para a Paz, a Paz é o caminho”.
Precisamos acreditar nisto.
Fonte: Canção Nova Noticias
Reprodução da Noticia: Tenda Católica (Elsio Alves)
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