A FUNÇÃO DO SALMISTA NAS MISSAS
“O
servo de Cristo cante de tal forma que não se deleite na voz, mas nas palavras
que canta.” (São Jerônimo)
Tão
importante quanto a função do leitor, que proclama a Palavra de Deus, a função
de cantar o Salmo Responsorial, após a primeira leitura, é também um gesto
sacramental, sinal sensível da presença de Deus. É uma leitura-proclamação, que
deve ser cantada de preferência, como um prolongamento meditativo da leitura
proclamada. O Salmista coloca-se a serviço de Deus, emprestando-lhe sua voz,
sua comunicação, seus gestos, sua pessoa. E coloca-se a serviço da comunidade
reunida em assembleia para ouvir a Palavra.
O
Salmo responsorial ou ‘Salmo de resposta’ “é parte integrante da liturgia da
palavra”. É, na realidade, uma leitura cantada. Uma “leitura” distinta das
demais proclamadas na liturgia, pois sua estrutura literária é essencialmente
lírica e poética. Consequentemente, cabe ao(à) Salmista, mais do que cantar,
“proclamar” o Salmo na estante da Palavra, pois aqui é o lugar onde Deus dirige
sua Palavra ao povo reunido.
Não
devemos cantar o Salmo no local do grupo de canto, mas sim do Ambão (mesa da
palavra). Em diversos encontros de liturgia e canto pastoral já foi colocada a
seguinte questão: poderia o próprio instrumentista, lá do seu lugar, onde está
o grupo de canto, tocar e cantar o Salmo? Não é liturgicamente o mais adequado,
primeiro, porque os documentos da Igreja insistem em que “Cada um, ao
desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pelas normas litúrgicas lhe
compete.” (Sacrosanctum Concilium). S
almodiar
requer um dom especial e é um ministério próprio. Depois, porque o Salmo
Responsorial deve ser proclamado do ambão ou da estante da Palavra, como as
demais leituras.
Trata-se,
portanto, de um conjunto de atitudes a serem assumidas por quem canta o Salmo,
para que seja expressão do Deus vivo que fala à comunidade, e ao mesmo tempo,
resposta orante do povo à Palavra ouvida. O Salmista coloca-se a serviço de
Deus, emprestando-lhe sua voz, sua comunicação, seus gestos, sua pessoa. O modo
como se dirige ao ambão, seu olhar, seus movimentos, sua dicção, o tom e a
modulação da voz, enfim todo o modo de cantar e de ser, toda a postura do
corpo. Movido (a) pelo Espírito, o (a) Salmista proclama com os lábios e o
coração a mensagem do texto bíblico, para que o povo escute e acolha o que a
Igreja lhe diz naquele dia.
Da
parte da assembleia, ela deve ter “os olhos fixos” em quem proclama cantando o
Salmo (Lc 4, 20), sem acompanhá-lo, assim como as demais leituras, pelo folheto
ou mesmo pela Bíblia. Ele deve ser proclamado do Lecionário Dominical, nossa
“Bíblia Litúrgica”, segundo Dom Clemente Isnard.
Através
dos Salmos aprendemos a suplicar e agradecer, a pedir perdão e louvar, a
confiar, rezar e cantar. Herança rica recebida do judaísmo, o Salmo é um dos
mais antigos cantos que foram incorporados à liturgia cristã, reinterpretado à
luz do Mistério Pascal de Jesus Cristo pelas comunidades primitivas,
alimentando nossa fé e nossa espiritualidade. Esquecido por séculos, felizmente
foi resgatado pelo Concílio Vaticano II, como “parte integrante da liturgia da
palavra”, não devendo ser substituído por outro canto qualquer, porque tem
valor de leitura bíblica.
Geralmente,
o canto do Salmo vem acompanhado de instrumentos musicais, embora isto não seja
necessário. Inclusive vale lembrar que, principalmente no Salmo e nos cânticos
bíblicos, os instrumentos deverão ser muito discretos. O que deve ser ouvida é
a voz do Salmista proclamando o texto sagrado. Os instrumentos deverão apenas
apoiar, acompanhar discretamente, sem se sobrepor ao canto, sem impor seu
ritmo, principalmente durante os versos cantados pelo Salmista. Por causa de
seu caráter de leitura cantada, a melodia para os versos do Salmo deverá ser de
preferência bastante simples, do tipo recitativo.
O
Salmista canta as estrofes e a assembleia canta o refrão, mas quando não é
possível se pode proclamar as estrofes, e a assembleia canta o refrão. O refrão
do Salmo é próprio da assembleia; é a resposta da assembleia às leituras
proclamadas. O Salmista não deve cantar o refrão. O Salmista deve proceder da
seguinte maneira: no começo, cantar o refrão duas vezes para a assembleia
aprender a melodia; em seguida cante as estrofes normalmente, e deixar a
assembleia cantar o refrão. Sempre que possível, o Ministério de Música deve
ensaiar o refrão do Salmo com o povo, antes do início da Missa.
Importante
destacar que o Salmista é um leitor que canta. O Salmista está proclamando a
palavra de Deus, está emprestando sua voz a Ele, por isso o Salmo deve ser proclamado
do ambão. Por esta razão, sempre que isto for possível, o Salmista deve ficar
junto com os leitores. Neste dia o ministro deve atuar somente como Salmista, e
não retornar ao grupo de canto para continuar cantando até o final da Missa.
Nas Paróquias onde isto seja possível, que assim seja feito, pois cada um deve
ter apenas uma função litúrgica.
Dois
são os modos de executar o canto do Salmo:
1) A
forma responsorial, em que o Salmista propõe o refrão, cantando-o sozinho, a
seguir repetido pela comunidade, e cantando as estrofes, geralmente em forma
livre, numa espécie de recitativo, ouvidas e acolhidas pela assembleia, que
participa no refrão;
2) A
forma direta, em que o Salmo é todo cantado pelo solista, sem interferência nem
participação da assembleia, que só escuta. De preferência seja usada a primeira
forma, por promover uma participação ativa (canto) e passiva (escuta) da
comunidade celebrante.
O
Salmista deve se preparar com cuidado, compromisso e espiritualidade. Como?
1º
passo: Ler! Ler e reler o texto (Salmo responsorial), baixinho e em voz alta,
escutar o texto (alguém está falando!). Prestar atenção a cada palavra, às
ideias, às imagens, ao ritmo, à melodia. Tentar entender o texto (no contexto
em que foi escrito). Se for possível, recorrer também a um bom comentário de um
biblista.
2º
passo: Meditar! Repetir o texto com a boca, a mente e o coração: não “engolir”
logo o texto, e sim, “mastigar”, “ruminar”, tirando dele todo o seu sabor; não
ficar só com as ideias que contém, mas deixar as próprias palavras mostrarem a
sua força: aprender de cor (= de coração!) pelo menos uma parte do texto.
Penetrar dentro do texto, interiorizá-lo; compreender, interpretá-lo a partir
de nossa realidade; identificar-se com ele: perceber como o texto expressa
nossas próprias experiências, sentimentos e pensamentos. Principalmente no caso
dos Salmos, estas experiências podem ser entendidas também como se referindo a
Jesus Cristo.
3º
passo: Orar! Deixar brotar de dentro do coração, tocado pela Palavra, uma
resposta ao Senhor. Dependendo da leitura e da meditação feitas, poderá ser uma
resposta de admiração, louvor, agradecimento, pedido de perdão, compromisso,
clamor, pedido, intercessão.
4º
passo: Contemplar! A Bíblia não usa o verbo contemplar, e, sim, escutar,
conhecer, ver. Trata-se de saborear, “curtir” a presença de Deus, o jeito de
ele ser e agir, o quanto ele é bom e o quanto faz para nós. Supõe uma entrega
total na fé. Passa, necessariamente, pelo conhecimento de Jesus Cristo (“Quem
me vê, vê o Pai!”), que se encontra do lado dos pobres.
Algum
instrumento que acompanhe o Salmista, seja discreto e suave, servindo apenas de
apoio, nunca se sobrepondo à mensagem do texto, que tem a primazia.
Requer-se
do Salmista uma sólida formação bíblico-litúrgica, espiritual e musical.
Formação
bíblico-litúrgica: O leitor deve ter um conhecimento mínimo da Bíblia:
estrutura, composição, número e nome dos livros do Antigo e Novo Testamentos,
seus principais gêneros literários (histórico, poético, profético, sapiencial
etc.). Quem vai ler na missa precisa saber o que vai fazer e que tipo de texto
vai proclamar. Além disso, precisa ter uma preparação litúrgica suficiente,
distinguindo os ritos e suas partes, e sabendo o significado do próprio papel ministerial
no contexto da Liturgia da Palavra. Ao leitor corresponde não só a proclamação
das leituras bíblicas, mas também a das intenções da oração dos fiéis e outras
partes que lhe são designadas nos diversos ritos litúrgicos.
Formação
Espiritual: A Igreja não contrata atores externos para anunciar a Palavra de
Deus, mas confia este ministério aos seus fiéis, porque todo serviço à Igreja
deve proceder da fé e alimentá-la. O leitor, portanto, precisa procurar cuidar
da vida interior da Graça e dispor-se com espírito de oração e olhar de fé.
Esta dimensão edifica o povo cristão, que vê no leitor uma testemunha da
Palavra que proclama. Esta, ainda que seja eficaz em si mesma, adquire também,
da santidade de quem a transmite, um esplendor singular e um ministério
atrativo. Do cuidado da própria vida interior do leitor, além do bom senso,
dependem também a propriedade dos seus gestos, do seu olhar, do seu vestir e do
penteado. É evidente que o ministério do leitor implica uma vida pública
conforme os mandamentos de Deus e as leis da Igreja.
Formação
técnica e musical: O leitor deve saber como chegar ao ambão e posicionar-se
nele, como usar o microfone e o lecionário, como pronunciar os diversos nomes e
termos bíblicos, de que maneira proclamar os textos, evitando uma leitura
apagada ou enfática demais. Precisa ter clara consciência de que exerce um
ministério público diante da assembleia litúrgica: sua proclamação, portanto,
deve ser ouvida por todos. Ao se formar tecnicamente é bom que o leitor se
lembre de que: (I) Não é aluno de teatro (ator) ou candidato a locutor de rádio
ou televisão; (II) Ter o cuidado para não assumir atitude de pose, de
arrogância, de vaidade pessoal, de “querer aparecer”, e (III) De acatar com
humildade as observações de seu formador ou da coordenação ou do Sacerdote que
estiver presidindo a Eucaristia.
Esta
tripla preparação deveria constituir uma iniciação prévia à assunção dos
leitores, mas depois deveria continuar sendo permanente, para que os costumes
não se percam. Isso vale para os ministros de qualquer grau e ordem. É muito
útil para o próprio leitor e para a comunidade que todo leitor tenha a coragem
de verificar se ele tem todas estas qualidades e, caso elas diminuam, ele deve
saber renunciar a esta função com honradez.
Podemos
aqui acrescentar algumas recomendações quanto à Postura: O leitor nunca deve
ler com as mãos nos bolsos ou para trás, ou na cintura. Pouse as mãos nas
laterais do ambão.
Cuidado
com os trajes: devem ser decentes, discretos, compatíveis com o respeito que se
deve ter pela celebração na Casa de Deus. Às mulheres se pede especial cuidado
com roupas muito curtas, ou blusas decotadas, ou cores espalhafatosas, tecidos
transparentes, ou que deixem as costas nuas, ou coladas demais ao corpo,
transmitindo sensualidade, além do uso excessivo de joias e maquiagem.
Para
os homens valem os mesmos conselhos em nome da sobriedade: evitar o uso de
bermudas ou sandálias de dedos, camisas de times de futebol, grupos seculares
de rock ou estampas com logomarcas ou fotos ou ilustrações de causas externas à
Igreja de Cristo. Para todos não se permite o uso de bebidas alcoólicas ou de
cigarros minutos antes do início da celebração. Programe o seu horário, e não
chegue atrasado, suando, afobado, com pressa, pois tudo isso influencia na
celebração.
Realizar
este ministério é certamente uma honra, e na Igreja isso sempre se considerou
assim. Não é um direito, mas um serviço em prol da assembleia litúrgica, que
não pode ser exercido sem as devidas habilitações, pela honra de Deus, pelo
respeito ao seu povo e pela própria eficácia da liturgia.
“Cantar
no Espírito” supõe preparação anterior, evitando-se a improvisação. Devemos
cantar, salmodiar e louvar ao Senhor mais com o espírito do que com a voz.
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