A Liturgia e o Ano Litúrgico
Deus revela-se para nós na
história do povo, como Deus presente. Ele estabeleceu uma relação de amizade,
uma parceria em aliança (cf. Ex 6, 1-8; 20,1-20; Dt 4, 7-8). Em vários momentos
ele se manifesta através de pessoas e acontecimentos (cf. Ex 3, 16-18; 1Sm 3) e
é sempre Deus que toma a iniciativa (cf. Gn 12,1-4; Is 7,10-17).
O Primeiro Testamento constitui o testemunho
dessa relação e da revelação divina na vida do povo. Nele encontramos os
relatos de um Deus que fala, que é próximo, que age (cf. Ex 2,23-25; 3,13-15).
No Segundo
Testamento ele se manifesta em Jesus, com Jesus e por Jesus, para nós. Se no
passado (cf. Hb 1,1-4) ele nos falou de várias maneiras, agora nos fala pelo
filho, o Verbo encarnado (cf. Jo 1, 1-5.9-14; 1Jo 1,1-4). A vida de Jesus com
sua paixão, morte e ressurreição constitui o falar e agir de Deus no meio do
povo.
A Igreja fiel ao seu
Senhor, celebra a presença de Deus e a sua Obra de Salvação na criação e na
história em favor do seu povo, como nos diz Lucas no cântico do Magnificat (cf.
Lc 1,46-55). Ele é o centro da Liturgia, pois, ela, é o Cântico da Igreja
elevado a Deus, a quem adora, suplica, canta, intercede, louva e entoa sua ação
de graças.
E como numa relação familiar e filial, quem
nos convoca em Assembleia é o próprio Deus (cf. Jr 23, 3a), para a divina
Liturgia. Aí age sua palavra que é escutada, meditada, refletida, apreendida e
praticada, e não volta para Ele sem eficácia (cf. Hb 4,12-13).
Então o que é a Liturgia? Quem
são seus atores? O que se celebra? Como e para que fazemos a Liturgia? Vamos
conhecer e aprofundar em linhas gerais, esse tema tão importante para a vida da
Igreja.
A Liturgia
Liturgia é a ação
da Igreja pela qual celebra o mistério da salvação. Dizendo de outra
forma: liturgia é fazer memória da vida, paixão, morte e ressurreição do
Senhor. A liturgia revive e atualiza no hoje de nossa vida, essa
presença e graça. Assim nos diz os bispos no documento da CNBB, Animação da
vida litúrgica no Brasil, nº 43:
“O
mistério pascal de Cristo é o centro da História da salvação e por isso o
encontramos na Liturgia como seu objeto e conteúdo principal. Esse mistério
envolve toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristãos[1]”
Daí porque
celebrar. “A celebração ocupa, na Religião, um lugar privilegiado: porque
põe homens e mulheres em comunhão entre si e com Deus através de símbolos ou
sinais. No cristianismo, a celebração consiste na memória do acontecimento
fundante do Povo de Deus, isto é, a morte e a ressurreição do Senhor, que
perpetua na História a salvação que Cristo veio trazer a todos. [2]”
O Ano Litúrgico
Como podemos
perceber acima, a liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Jesus. E o
tempo forte de sua vivencia mais profunda é o Domingo – Dia do Senhor. Em torno
do tempo do Domingo aos poucos foi se organizando o período pelo qual
denominamos, ano litúrgico. Então, o ano litúrgico é o período através do qual
a Igreja celebra esse mistério durante o ano. É um caminho, um itinerário, um
roteiro pelo qual vivenciamos durante todo o ano, a memória do Senhor.
O ano litúrgico “revela todo
mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a encarnação e nascimento até à
ascensão, ao pentecostes e à expectativa da feliz esperança da vinda do Senhor”
(SC 102). Ele fundamentalmente está organizado em dois ciclos: o tempo da
páscoa e o tempo do natal. Intercalados por um período curto e outro mais
longo, denominado de, tempo comum.
Podemos representar em gráfico
da seguinte maneira.
Como podemos perceber, temos o tempo
ou ciclo do Natal com sua preparação, o advento, depois, o natal, em
seguida o prolongamento com as festas da sagrada família, mãe de Deus, epifania
e batismo do Senhor. Terminado esse tempo, temos um curto intervalo denominado
de, tempo comum. Nesse tempo, nossa atenção na liturgia se volta para o
início da vida pública de Jesus. Após esse período do pequeno tempo comum,
temos o tempo ou ciclo mais importante, o tempo ou ciclo da páscoa.
Também no tempo da páscoa temos uma preparação, a quaresma, com cinco domingos,
em seguida o tríduo pascal (de quinta-feira santa ao sábado santo) e a grande
celebração, a páscoa do Senhor.
Dando continuidade a páscoa,
segue a sequência de oito domingos pascais, sendo o sétimo a ascensão do Senhor
e o último, pentecostes, encerrando o tempo ou ciclo pascal. Uma vez encerrado
esse tempo, o ano litúrgico continua com o tempo comum grande. O tempo
comum grande começa com a festa da Santíssima Trindade, tem suas solenidades, festas
e memórias (corpo do Senhor, coração de Jesus, santos/santas, Nossa Senhora)
tanto de alguns aspecto da vida de Jesus como de seus seguidores e sua Mãe. Ele
termina com a solenidade da festa de Cristo Rei em fins de novembro e começo de
dezembro. Depois começa tudo de novo.
A liturgia é cheia de
simbolismos. Durante o ano litúrgico, um desses símbolos, são as cores
litúrgicas. O que elas significam e em que momentos são usadas? As cores são: o
branco, o vermelho, o verde, o roxo, e o róseo. Por seu caráter, cada uma
expressa um sentimento, uma mensagem seja ela de tristeza, alegria, vida, amor,
esperança, purificação/pureza, etc., assim temos:
O branco – que tem um caráter de pureza,
purificação, alegria, glória, está associado a alegria, só pode ser usado nas
seguintes situações: nas festas do natal e páscoa; nas celebrações dedicada a
Nossa Senhora; na solenidade de todos os santos (01/11); na festa da conversão
de são Paulo (25/01); na festa do nascimento de são João Batista (24/06); na
festa de são João evangelista (27/12).
O vermelho – por seu caráter simboliza a
vida, o amor, o martírio, o testemunho e só pode ser usado nas seguintes
situações: no domingo de ramos; na sexta-feira da paixão; no domingo de
pentecostes; na celebração do sacramento da crisma (Espírito Santo); nas missas
de mártires; no coração de Jesus.
O verde – por seu caráter de esperança,
tranquilidade, é usado durante toda a celebração do período do tempo comum,
indicando que a Igreja na esperança aguarda o seu Senhor.
O roxo – é uma cor de forte sentimento
melancólico. É usada durante todo período da quaresma e nas celebrações dos
defuntos. Ao mesmo tempo que expressa tristeza, também nos alerta para a
conversão imediata perante o Senhor, daí ser usada no tempo da penitencia, a quaresma.
O róseo – é uma cor mais leve, ao
contrário do roxo, e expressa um sentimento de leveza mesclada com uma
esperança iminente. É usada em dois momentos: no terceiro domingo do advento
(gaudete – jubilai-vos, alegria) onde se expressa um sentimento de alegria pela
proximidade da chegada do Senhor que vem ao nosso encontro; e no quarto domingo
da quaresma (laetare – alegra-te, alegria) que nos convida a uma alegria
comedida perante o tempo especial que se aproxima da páscoa do Senhor. É um
preludio da grande e indizível alegria plena e perfeita.
Há ainda outras cores festivas
que os padres usam como expressão alegre e cultural do nosso povo, como por
exemplo, as casulas de múltiplas cores. Cada qual capta o sentimento que
está por trás dos eventos celebrados.
Tudo isso, pois, é vivenciado
na celebração cujo ritos, atores e espaço litúrgico tem um papel
fundamental. Aliás, sobre a Celebração e os demais elementos, confira clicando
aqui: Celebração.
[1] CNBB 43, nº 48
[2] Nº 37.38.39.
Fonte:https://bibliaecatequese.com/a-liturgia-e-o-ano-liturgico/
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