O que a Igreja diz sobre o suicídio?
O pensamento suicida aparece com uma frequência
muito maior do que sabemos ou imaginamos, pois nem sempre esse pensamento é
declarado às pessoas próximas, talvez por medo de ser incompreendido pelas
pessoas ou por não conseguir elaborar o assunto o suficiente a ponto de colocar
para fora nem compartilhá-lo com alguém. Para alguns psicólogos, o pensamento
suicida, dentre os pensamentos negativos que uma pessoa pode ter, é considerado
um dos mais significativos. A palavra suicídio (etimologicamente vem do
latim sui = si mesmo; caedes = seu assassinato, ação de se matar) significa morte intencional autoinfligida, isto é,
quando a pessoa, por várias razões, decide
tirar sua própria vida.latim sui = si mesmo; caedes = seu assassinato, ação de se matar) significa morte intencional autoinfligida, isto é,
O suicídio pode ser definido como um ato deliberado
executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma
consciente e intencional. É um comportamento com determinantes multifatoriais,
além disso, é resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e
biológicos, inclusive genéticos, culturais, psicológicos, religiosos e
socioambientais.
As causas do suicídio podem ser variadas, já que “o
comportamento suicida é um fenômeno complexo e é afetado por vários fatores
inter-relacionados: pessoais, sociais, psicológicos, culturais biológicos e
ambientais” (Organização Mundial da Saúde – OMS, 2014).
Segundo os dados do estudo “Prevenção do suicídio:
um imperativo global”, divulgado em 2014 pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), estima-se que mais de 800 mil pessoas se suicidam, anualmente, ao redor
do mundo. No tocante aos mais jovens, o suicídio é a segunda causa principal de
morte de pessoas entre 15 e 29 anos de idade. A cada 40 segundos, uma pessoa
morre por suicídio em algum lugar do mundo. O suicídio é a primeira causa de
morte não natural em vários dos países mais desenvolvidos do mundo. Nos Estados
Unidos, por exemplo, são registradas, por ano, mais suicídios do que mortes por
acidentes de trânsito. O risco de suicídio, no mundo, é três vezes maior entre
os homens do que entre as mulheres.
O suicídio pode ser evitado?
Os estudos de suicidologia indicam que 90% dos
casos de suicídios podem ser evitados, ou seja, a cada 10 casos, nove vidas
podem ser salvas. Calcula-se que para cada pessoa que conseguiu se suicidar,
outras 20 tentaram fazê-lo. Ainda assim, os suicídios podem ser prevenidos.
Como cruciais para a prevenção, os especialistas ressaltam as redes familiares
fortes e a capacidade de assimilar a frustração.
Hoje, pela psicologia, sabe-se, com certeza, que
existe uma relação estreita entre isolamento social e suicídio (alguém que não
está integrado no corpo social ou no caso do adolescente, alguém que não vê
perspectiva de solução). Devemos dar atenção especial para as motivações
psicossociais e culturais do suicídio. Subjetivamente, a responsabilidade
inexiste ou é muito diminuída, porque a liberdade está condicionada pela
presença de processos psicológicos de caráter depressivo. Objetivamente, não se
pode descartar possibilidades de suicídios praticados com plena liberdade.
Nesta perspectiva, são interpretados os suicídios de protestos e os
“altruístas”.1
Ponto de vista moral
Para a avaliação moral, devemos considerar alguns
argumentos humanos e humanizadores. Que a pessoa busque mais a autorrealização,
valorizando-se, afastando de si a autodestruição. O suicídio é a negação da
tentativa de autorrealização. Somos administradores e não donos da própria
vida. O suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano de perpetuar e
conservar a própria vida (objetivamente, é um ato grave contra o amor a si
mesmo, e é um ato de injustiça contra o amor ao próximo, porque rompe,
tragicamente, os laços de solidariedade familiar e amizade. É um ato de
descrença no amor de Deus).
Em atitude cristã e pastoral diante dos familiares
da pessoa que se suicidou, não se deve dar margem nenhuma para que os
familiares se desesperem contra a situação dos que atentam contra a própria
vida (achem argumentos para falar dos caminhos que Deus tem).
Quanto ao suicídio coletivo, é negativo a exaltação
ideológica indevida e a manipulação feita por líderes. É de se excluir,
absolutamente, o fanatismo religioso. Moralmente, deve-se condenar toda e
qualquer instrumentalização, porque é um desumano desprezo da vida, induz ao
fanatismo intransigente, que faz ver no outro o inimigo abominável e,
dependendo da seita, pode gerar um ritual necrófilo. Portanto, o mandamento
“não matar” é um preceito absoluto sem exceção.
O que o magistério católico reflete sobre o
suicídio?
Segue abaixo alguns pontos apresentados pelo
Catecismo da Igreja Católica:
2280 – “Cada um é responsável por sua vida diante
de Deus, que lhe deu e que dela é sempre o único e soberano Senhor. Devemos
receber a vida com reconhecimento e preservá-la para honra dele e salvação de
nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus
nos confiou. Não podemos dispor dela”.
2281 – “O suicídio contradiz a inclinação natural
do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida. É gravemente contrário ao
justo amor de si mesmo. Ofende igualmente o amor do próximo, porque rompe
injustamente os vínculos de solidariedade com as sociedades familiar, nacional
e humana, às quais nos ligam muitas obrigações. O suicídio é contrário ao amor
do Deus vivo”.
2282 – “Se for cometido com a intenção de servir de
exemplo, principalmente para os jovens, o suicídio adquire ainda a gravidade de
um escândalo. A cooperação voluntária ao suicídio é contrária à lei moral.
Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do
sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida”.
2283 – “Não se deve desesperar da salvação das
pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes
ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram
contra a própria vida”.
Prevenção e mitos
Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou no
relatório “Prevenção do suicídio, um imperativo global” (2014) os
principais mitos sobre o suicídio:2
1- “Quem fala sobre suicídio não tem intenção de
cometê-lo”. Essas pessoas podem estar pedindo ajuda ou apoio e um número
significativo delas podem ter ansiedade, depressão e sentir-se desesperançadas
para considerar outras opções.
2- “A maioria dos suicídios ocorrem repentinamente,
sem avisos prévios”. Mesmo que algumas pessoas tenham agido dessa maneira, no
entanto, a maioria delas deu avisos de advertência verbais ou comportamentais.
3- “O suicida está decidido a morrer”. Não, o
comportamento do suicida pode ser ambivalente em relação à vida e à morte. Pode
agir impulsivamente na tentativa de matar-se, mas, ao fazê-lo, se puder,
escolherá continuar vivendo. Por isso, o apoio emocional no momento adequado
poderá prevenir o suicídio.
4- “Quem tentou o suicídio uma vez sempre tentará”.
O maior risco de suicídio costuma ter curta duração e depende de uma situação
específica. Ainda que os pensamentos para se matar voltem, não são
permanentes. Mesmo quem os teve e tentou o suicídio diversas vezes, essa pessoa
poderá viver depois durante muitos anos.
5- “Somente as pessoas com transtorno mentais são
suicidas”. O comportamento suicida mostra que a pessoa está extremamente
infeliz, mas não que tenha, necessariamente, um transtorno mental. Muitas pessoas
com esses transtornos não apresentam um comportamento suicida, e nem todas que
cometeram o suicídio tinham um transtorno psiquiátrico.
6- “Falar sobre o suicídio é uma ideia ruim, pois
pode ser interpretado como um estímulo”. Devido ao enorme estigma que cerca o
suicídio, a maioria das pessoas com esses pensamentos não sabe com quem
conversar sobre isso. Ao contrário do que se imagina, conversar sem rodeios
sobre o suicídio pode fazê-la acreditar em outras opções ou dar tempo para que
possa refletir se, realmente, quer se matar e até desistir de fazê-lo.
Fonte: Canção Nova
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